quinta-feira, 4 de outubro de 2012

“Não tive coragem de contar para meus outros filhos”, diz mãe de criança cortada por trator

Jovem de 28 anos reúne forças para explicar ausência de Cadu aos irmãos mais novos
Isabele Rangel, do R7
Mãe e avó

A mãe do menino morto ao ser atingido por um trator no bairro Jardim Viga, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Aline Souza Costa, de 28 anos, ainda não sabe como contar aos irmãos da criança, que moram em Belford Roxo, também na baixada, sobre a tragédia. Carlos Eduardo Souza Costa, de 12 anos, foi atropelado por um trator em uma obra na rua Pernambuco, nas proximidades da casa da avó, na tarde de segunda-feira (1º).
— A minha filha está transtornada. Ela sabe que o irmão sofreu um acidente, mas eu ainda não contei para eles da morte. Ela ouviu na hora que o rapaz chegou falando que ele tinha sido atropelado. Os dois estavam comigo. Eu saí correndo e deixei a minha cunhada com os meus filhos.
As crianças estão sob os cuidados de parentes na casa de Aline, em Belford Roxo. No entanto, a mãe de Cadu, como a criança era conhecida, preferiu ficar um tempo na casa da mãe e não sabe como falar com as crianças sobre o assunto.
— Não sei o que dizer para os meus filhos. Os três eram muito unidos. O Carlos Eduardo era o mais velho. O Carlos Eduardo protegia os irmãos mais novos. E agora? Como é que eu digo para os meus filhos que ele não vai voltar?
Segundo a avó do menino, Marisa Azevedo Souza Costa, de 50 anos, a criança foi criada em Nova Iguaçu, na casa dela até os dois anos de idade, já que Aline tinha apenas 17 anos quando engravidou pela primeira vez.
— Meu neto foi criado comigo até os dois anos, depois ele foi morar com a mãe. Todo mundo aqui no bairro conhecia ele. Essa criança custou muito para a gente. Foi muita luta. Ele tinha um pai que não era presente e a gente cuidava, cuidava, cuidava.
Segundo Aline, Carlos Eduardo era um menino inteligente e esperto. Aos 12 anos, ele cursava o quarto ano do Ensino Fundamental na Escola Teodoro Sobrinho, no Jardim Glauce, em Belford Roxo.
— Ele era um menino muito bom. Tanto que todas as professoras da escola dele foram ao enterro. Meu filho era muito inteligente.
A visita à casa da avó foi motivada pela necessidade de uma consulta médica. Aline pretendia levar os filhos no posto de saúde, próximo à casa da mãe, mas, como não conseguiu atendimento na segunda-feira (1º), decidiu dormir em Nova Iguaçu para voltar à unidade de saúde no dia seguinte. A criança então aproveitou para brincar com amigos.
— Meu filho sempre passava as férias aqui na casa da avó. Quando ele foi atropelado, ele estava com o meu afilhado, que sempre brincava com ele na rua de trás, onde não tem movimento de carro. Por isso, quando o rapaz bateu aqui em casa dizendo que ele tinha sido atropelado e estava no hospital, eu não achei que era o meu filho.
Desesperada, Aline seguiu para o Hospital Geral de Nova Iguaçu, conhecido como hospital da Posse. Os médicos ainda tentaram poupar a mãe, mas ela quis ver o corpo do menino para ter certeza de que era seu filho.
— Quando eu cheguei no hospital, eu quis logo ver, mas a doutora não queria deixar. Eu tinha esperança que não fosse o meu filho porque eu pensei: ‘Não é possível. Ele estava ali perto de casa’. Mas era o meu filho e, quando cheguei, ele já estava morto.

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